
Quem nunca deixou uma tarefa importante para a última hora, mesmo sabendo que isso poderia trazer problemas? Seja adiar a entrega de um relatório no trabalho, evitar responder e-mails ou postergar uma conversa difícil com um colega, a procrastinação faz parte da vida de muitas pessoas. Mas o que poucos percebem é que, para alguns, esse hábito pode estar ligado a experiências difíceis vividas na infância, como maus-tratos ou negligência. Com base em estudos, como o de Marissa J. Harris, este artigo explora como traumas de infância podem levar à procrastinação no cotidiano de pessoas com vida trabalhista ativa e como a ansiedade atua como uma ponte nesse processo.
O que é procrastinação no dia a dia?
Procrastinação é quando você adia uma tarefa que sabe que precisa fazer, mesmo que isso possa causar estresse, prazos perdidos ou até problemas no trabalho. No ambiente profissional, isso pode ser evitar começar um projeto, deixar e-mails acumular ou fugir de responsabilidades importantes. Para trabalhadores, a procrastinação não afeta apenas a produtividade, mas também a saúde mental, gerando culpa, ansiedade e até conflitos com colegas ou chefes. Embora pareça apenas uma questão de “falta de vontade”, muitas vezes há causas emocionais mais profundas por trás desse comportamento.
O impacto dos traumas de infância
Traumas de infância são experiências difíceis que marcam a vida de uma pessoa nos primeiros anos, deixando cicatrizes emocionais que podem influenciar o jeito como ela enfrenta desafios na vida adulta. Essas experiências, como as estudadas por Marissa J. Harris, incluem situações como ser machucado fisicamente por um cuidador, ouvir constantemente palavras duras que diminuem a autoestima, sofrer abusos sexuais ou crescer sem o cuidado e carinho necessários. Por exemplo, uma criança que apanhava com frequência pode carregar um medo constante de errar, enquanto outra que era ignorada pelos pais pode se sentir insegura ao pedir ajuda. Há também casos de crianças que enfrentaram abusos mais graves, como toques inadequados, ou que cresceram em lares onde ninguém lhes dava atenção, deixando-as com uma sensação de abandono.
Nem sempre essas ações são feitas de propósito para machucar. Às vezes, um pai ou mãe que grita ou pune com violência acha que está apenas “ensinando uma lição”, sem entender o impacto que isso terá na criança. Em outros casos, como quando os pais estão tão sobrecarregados com problemas, como falta de dinheiro ou depressão, eles podem acabar negligenciando a criança sem querer, simplesmente porque não conseguem dar o suporte necessário. Mas, intencional ou não, o resultado é o mesmo: essas experiências podem fazer com que a pessoa, já adulta, sinta dificuldade em lidar com pressão, confie menos em si mesma ou evite situações que parecem desafiadoras. No trabalho, isso pode se traduzir em adiar uma apresentação por medo de ser julgado ou deixar um relatório para depois porque a ideia de falhar parece insuportável.
Essas marcas do passado afetam o dia a dia no trabalho porque podem gerar uma ansiedade que faz a pessoa evitar tarefas importantes. Alguém que cresceu sendo criticado, por exemplo, pode hesitar em compartilhar ideias numa reunião, temendo repetir a sensação de ser diminuído. Outro, que sentiu abandono na infância, pode evitar pedir ajuda aos colegas, acumulando tarefas até que fiquem fora de controle. Como o estudo de Harris sugere, essa ansiedade é o elo que conecta os traumas à procrastinação, fazendo com que a pessoa adie ações para fugir do desconforto emocional, mesmo que isso traga mais estresse depois.
Como os traumas levam à procrastinação
Pesquisas, como a conduzida por Marissa J. Harris, mostram que pessoas com histórico de maus-tratos na infância têm maior tendência a procrastinar. Isso acontece porque os traumas podem afetar a capacidade de regular emoções e tomar decisões. Por exemplo, alguém que cresceu em um ambiente onde era constantemente criticado pode desenvolver um medo intenso de falhar. No trabalho, esse medo pode se transformar em ansiedade ao enfrentar tarefas desafiadoras, como preparar uma apresentação ou liderar um projeto. Para evitar o desconforto dessa ansiedade, a pessoa adia a tarefa, mesmo sabendo que isso pode trazer consequências negativas, como atrasos ou críticas.
A ansiedade funciona como uma ponte entre os traumas e a procrastinação. Imagine um profissional que sofreu negligência na infância. Ele pode carregar uma sensação de insegurança ou medo de ser julgado. Ao receber um projeto importante, ele pode pensar: “E se eu não fizer isso direito? E se meu chefe não gostar?” Para fugir desse desconforto, ele deixa o projeto para depois, optando por tarefas menos importantes ou até mesmo por distrações, como checar redes sociais. Esse comportamento cria um ciclo: a procrastinação aumenta a pressão, o que gera mais ansiedade, dificultando ainda mais a conclusão da tarefa.
Procrastinação no trabalho: exemplos do cotidiano
A procrastinação ligada a traumas de infância pode aparecer de várias formas no dia a dia profissional:
- Evitar reuniões importantes: Um funcionário pode adiar a preparação para uma reunião porque teme ser questionado ou não se sentir preparado, um reflexo de inseguranças geradas por críticas severas na infância.
- Atrasar projetos: Um designer que sofreu abuso emocional pode evitar começar um trabalho criativo por medo de que o resultado não seja perfeito, adiando a entrega até o último minuto.
- Acumular tarefas administrativas: Um gerente com histórico de negligência pode deixar e-mails ou relatórios acumularem, pois a pressão de lidar com múltiplas responsabilidades desperta ansiedade ligada a memórias de desamparo.
Esses comportamentos não são apenas “preguiça”. Eles podem ser respostas emocionais a experiências passadas que ainda influenciam como a pessoa enfrenta desafios no presente.
Por que isso importa?
Compreender que a procrastinação pode estar ligada a traumas de infância é fundamental para mudar a forma como lidamos com esse comportamento, tanto em nós mesmos quanto em colegas de trabalho. No ambiente profissional, a procrastinação pode levar a prazos perdidos, queda na qualidade do trabalho e até problemas de relacionamento com a equipe. Além disso, para quem procrastina, o sentimento de culpa e estresse pode prejudicar a saúde mental e o bem-estar. Reconhecer que traumas do passado podem estar por trás disso ajuda a abordar o problema com mais empatia e buscar soluções eficazes.
Como lidar com a procrastinação no trabalho
Se você ou alguém que você conhece enfrenta procrastinação, especialmente com raízes em experiências difíceis do passado, aqui estão algumas estratégias práticas:
- Busque apoio psicológico: Terapias, como a cognitivo-comportamental (TCC), podem ajudar a identificar e gerenciar a ansiedade ligada a traumas. Um terapeuta pode ensinar técnicas para enfrentar o medo de falhar e melhorar a autoconfiança.
- Divida as tarefas em pequenos passos: Projetos grandes podem parecer esmagadores, especialmente para quem sente ansiedade. Dividir uma tarefa em etapas menores, como “escrever o título do relatório hoje”, torna o trabalho mais gerenciável e menos assustador.
- Crie uma rotina estruturada: Estabelecer horários fixos para trabalhar em tarefas específicas pode reduzir a tentação de adiar. Por exemplo, reservar 30 minutos pela manhã para responder e-mails pode evitar o acúmulo.
- Pratique a autocompaixão: Em vez de se culpar por procrastinar, tente entender que esse comportamento pode estar ligado a experiências passadas. Ser gentil consigo mesmo pode ajudar a reduzir a ansiedade e motivar a ação.
- Converse com o chefe ou colegas: Se a procrastinação está afetando o trabalho, compartilhar suas dificuldades (sem entrar em detalhes pessoais, se preferir) pode abrir espaço para ajustes, como prazos mais flexíveis ou apoio da equipe.
- Use técnicas de gerenciamento de estresse: Práticas como respiração profunda, meditação ou pausas curtas durante o dia podem ajudar a reduzir a ansiedade que leva à procrastinação.
O papel das empresas
Empresas também podem ajudar a combater a procrastinação, especialmente para funcionários que podem estar lidando com os efeitos de traumas. Algumas ações incluem:
- Oferecer programas de bem-estar: Workshops sobre gerenciamento de tempo e estresse podem ensinar estratégias para lidar com a ansiedade no trabalho.
- Criar um ambiente acolhedor: Uma cultura de trabalho que valoriza o diálogo aberto e reduz a pressão por perfeição pode ajudar funcionários a se sentirem mais seguros para assumir tarefas.
- Apoio psicológico: Oferecer acesso a serviços de saúde mental, como aconselhamento, pode fazer a diferença para quem enfrenta desafios emocionais.
Conclusão
Traumas de infância, como maus-tratos ou negligência, podem deixar marcas que afetam a vida profissional, levando à procrastinação no dia a dia. A ansiedade gerada por essas experiências muitas vezes faz com que as pessoas evitem tarefas importantes, criando um ciclo de estresse e adiamento. Entender essa conexão é o primeiro passo para abordar a procrastinação com empatia, seja em você mesmo ou em colegas de trabalho. Com estratégias práticas, apoio psicológico e um ambiente de trabalho acolhedor, é possível superar esse hábito e construir uma relação mais saudável com as responsabilidades do dia a dia. Se você se identifica com essa situação, saiba que não está sozinho, e há caminhos para transformar desafios do passado em oportunidades de crescimento no presente.
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