
Durante esta série, “Historicidade Bíblica”, traremos artigos sobre documentos históricos e achados que corroboram para a validação histórica da Bíblia, que é tida por muitos como um livro comum de fábulas. Segundo a Bíblia, o povo de Judá foi levado cativo para a Babilônia após a destruição de Jerusalém e do Templo em 586 a.C. pelas forças do rei Nabucodonosor. Esse exílio durou 70 anos, como havia sido profetizado pelo profeta Jeremias:
“Assim diz o Senhor: Quando se completarem setenta anos da Babilônia, eu os visitarei e cumprirei a minha boa palavra, tornando a trazê-los a este lugar.”
(Jeremias 29:10)
A profecia de Jeremias anunciava não apenas o retorno do povo judeu à sua terra, mas indicava que isso aconteceria por meio da ação de um rei estrangeiro, chamado Ciro, que agiria como instrumento de Deus para libertá-los. O profeta Isaías, antes mesmo de Ciro nascer, já o mencionava pelo nome:
“Assim diz o Senhor ao seu ungido, a Ciro, a quem tomo pela mão direita, para submeter nações diante dele…”
(Isaías 45:1)
Durante muito tempo, céticos e estudiosos liberais consideraram esse relato como mera lenda ou ficção religiosa. A ideia de que um rei estrangeiro reconheceria o Deus de Israel e libertaria os judeus soava como um enfeite literário posterior, construído para dar esperança ou justificar a reconstrução do templo. Para muitos, tratar-se-ia apenas de uma fábula nacionalista com fins teológicos.
No entanto, uma impressionante descoberta arqueológica no século XIX abalou essa visão cética: o Cilindro de Ciro.
A descoberta do Cilindro

Em março de 1879, o arqueólogo Hormuzd Rassam, trabalhando para o Museu Britânico, realizou escavações nas ruínas da antiga Babilônia (atualmente no Iraque). Ali, ele encontrou um cilindro de argila com inscrições em cuneiforme, depositado nas fundações do templo de Esagila, dedicado ao deus Marduque.
Essa peça, hoje conhecida como Cilindro de Ciro, revelou-se um dos documentos mais significativos da história do Oriente Médio antigo. Datado de cerca de 539 a.C., o artefato registra a tomada da Babilônia por Ciro, o Grande, rei da Pérsia, e descreve suas ações logo após a conquista.
O cilindro está atualmente em exposição no Museu Britânico, em Londres.
O conteúdo do Cilindro
O texto do Cilindro de Ciro descreve como ele entrou na Babilônia pacificamente, derrotando Nabonido (último rei babilônico), e se apresenta como escolhido do deus Marduque para restaurar a ordem. O mais importante é que ele menciona sua política de repatriar os povos exilados e reconstruir os templos dos seus deuses.
Embora o cilindro não mencione diretamente os judeus, ele apresenta Ciro como alguém que:
- libertava povos deportados por regimes anteriores;
- permitia que retornassem às suas terras;
- restaurava seus locais de culto;
- adotava uma postura de tolerância religiosa.
Esse conteúdo corrobora diretamente o que a Bíblia relata em Esdras 1, onde Ciro emite um decreto autorizando os judeus a voltarem a Jerusalém e reconstruírem o Templo do Senhor.
A confirmação da Bíblia pela arqueologia
A Bíblia afirma:
“No primeiro ano de Ciro, rei da Pérsia, para que se cumprisse a palavra do Senhor pela boca de Jeremias, o Senhor despertou o espírito de Ciro […]”
(Esdras 1:1)
E o próprio decreto de Ciro é citado:
“Assim diz Ciro, rei da Pérsia: O Senhor, Deus dos céus, me deu todos os reinos da terra e me encarregou de lhe edificar uma casa em Jerusalém, que está em Judá.”
(Esdras 1:2)
Durante décadas, esse texto foi tratado como um mito. Mas o Cilindro de Ciro mostra que esse tipo de decreto era compatível com a política real do rei persa — e, mais do que isso, demonstra que ele efetivamente permitia o retorno de povos às suas terras, o que fortalece a credibilidade do relato bíblico.
Conclusão
O Cilindro de Ciro é um exemplo notável de como a arqueologia pode confirmar a historicidade de relatos bíblicos antes tidos como lendas. O que por séculos foi visto com ceticismo – a libertação dos judeus após 70 anos de exílio, por ordem de um rei estrangeiro chamado Ciro – foi sustentado por um artefato milenar encontrado na própria Babilônia.
Embora o Cilindro não mencione diretamente os judeus, ele fornece o contexto histórico exato descrito na Bíblia: a política de repatriação de Ciro, sua postura tolerante e sua atuação como restaurador de templos. É uma peça-chave que une arqueologia e Escritura, reforçando a confiabilidade dos textos sagrados.
Este achado mostra que, ao contrário do que muitos pensaram, os relatos bíblicos não são meras histórias piedosas — mas também traz fatos históricos que atravessaram os séculos até serem desenterrados nas areias da Mesopotâmia.
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