Você já ouviu falar do lobo-terrível? Se você é fã de Game of Thrones, provavelmente lembra dos gigantescos lobos que acompanhavam os personagens da série. Mas o que muita gente não sabe é que esses bichos existiram de verdade, há mais de 10 mil anos, nas Américas — e agora, cientistas dizem que conseguiram trazê-los de volta… mais ou menos.

O lobo da capa da revista Time
No começo de abril de 2025, uma notícia bombástica tomou conta das redes sociais e até da capa da revista Time: a empresa americana Colossal Biosciences afirmou ter criado os primeiros animais “desextintos” do mundo. Entre eles, três filhotes que seriam, supostamente, uma nova versão do extinto lobo-terrível. Os nomes? Rômulo, Remo e Khaleesi — sim, as referências mitológicas e televisivas continuam.
Mas antes que você ache que os cientistas realmente reviveram um fóssil, calma lá. A história é bem mais complexa — e mais fascinante também.
Eles não são exatamente lobos-terríveis
Apesar da empolgação, muitos cientistas apontaram que esses filhotes não são clones exatos do lobo-terrível original. O que a Colossal fez foi algo chamado edição genética. Em vez de simplesmente clonar o animal extinto (o que é praticamente impossível com o DNA tão velho e degradado), os cientistas identificaram os genes que davam ao lobo-terrível suas características principais — como o tamanho maior, pelagem branca e cabeça mais larga — e editaram o DNA do parente mais próximo vivo: o lobo-cinzento.
Usando uma técnica super moderna chamada CRISPR, eles fizeram 20 modificações em 14 genes do lobo-cinzento, para que os filhotes nascessem com uma aparência parecida com a do animal extinto. E deu certo: Rômulo, Remo e Khaleesi nasceram com várias dessas características — mas, geneticamente falando, ainda são lobos-cinzentos com upgrades.
Mas espera aí… isso é clonagem ou edição genética?
Boa pergunta! Muita gente confunde as duas coisas, mas são bem diferentes:
- Clonagem é como tirar uma fotocópia exata de um organismo. A ideia é criar uma cópia idêntica, com o mesmo DNA. Isso pode acontecer naturalmente (como em gêmeos idênticos) ou em laboratório, como no caso da famosa ovelha Dolly.
- Já a edição genética é mais como pegar um texto e editar algumas palavras ou frases. Você parte de um DNA existente e modifica trechos específicos. Foi isso que aconteceu com os lobos da Colossal.
No caso do lobo-terrível, o DNA antigo estava tão danificado que seria impossível usá-lo para clonagem. Por isso, os cientistas usaram os fragmentos que conseguiram recuperar apenas como referência, para então editar o DNA do lobo-cinzento e deixá-lo mais parecido com seu primo extinto.
É ou não é desextinção, então?
Aí começa a polêmica. Alguns especialistas dizem que isso não pode ser chamado de “desextinção”, porque o animal original — o verdadeiro lobo-terrível — continua extinto. O que temos hoje é um híbrido, uma espécie de “versão atualizada” do lobo-cinzento, com algumas características do antigo predador pré-histórico.
Mas a Colossal defende que, se o animal se parece, se comporta e vive como o extinto, então ele cumpre o mesmo papel ecológico e pode ser considerado “desextinto” sob uma nova definição.
Por que isso importa?
Você pode estar se perguntando: “Mas por que reviver um bicho extinto, afinal?”. A Colossal acredita que essa tecnologia pode ser uma forma de combater a extinção em massa que está acontecendo agora por causa das mudanças climáticas e da ação humana. Segundo eles, é nosso dever usar a ciência para tentar consertar parte dos danos que causamos à natureza.
A ideia é que, no futuro, possamos editar o DNA de espécies ameaçadas, tornando-as mais resistentes a calor, seca ou doenças — ou até mesmo trazer de volta espécies que faziam parte de ecossistemas importantes, como os mamutes, que ajudavam a manter as pastagens do Ártico.
Mas e os riscos?
Nem todo mundo acha essa ideia tão boa. Afinal, ainda não sabemos direito como esses “animais recriados” se comportariam no meio ambiente atual. O mundo mudou muito nos últimos 10 mil anos, e inserir novamente espécies extintas pode bagunçar os ecossistemas modernos.
Além disso, há quem diga que isso pode dar a impressão de que está tudo bem destruir o meio ambiente, porque depois é só “trazer os bichos de volta”.
Conclusão
O que vimos com os filhotes Rômulo, Remo e Khaleesi não foi exatamente o retorno do lobo-terrível, mas sim uma demonstração poderosa de como a ciência está avançando no campo da genética. Os animais criados são lobos-cinzentos modificados, que se parecem bastante com a antiga espécie extinta, mas ainda não são o verdadeiro lobo-terrível.
Apesar do impacto visual e da tecnologia de ponta envolvida, a extinção continua sendo um caminho sem volta — pelo menos por enquanto. O projeto da Colossal Biosciences é incrível e pode, sim, abrir portas para proteger espécies ameaçadas hoje. Mas é importante lembrar que recriar a aparência de um animal não é o mesmo que trazê-lo de volta à vida, com toda a sua complexidade genética e papel ecológico.
Ou seja: o lobo-terrível ainda é uma criatura do passado. O que temos agora é um novo tipo de lobo — fruto da engenharia genética — que nos faz pensar no futuro da ciência, mas também no impacto das nossas ações sobre o planeta.