Apagão na Espanha e Portugal: Entenda o Caos que Paralisou a Península Ibérica

Na manhã de 28 de abril de 2025, um apagão monumental mergulhou Espanha e Portugal num caos sem precedentes. Milhões de pessoas acordaram para um mundo sem energia elétrica: semáforos apagados, metrôs paralisados, aeroportos em colapso e cidades inteiras, como Madri e Lisboa, transformadas em cenários de confusão. Mas o que causou esse blackout histórico? Como funciona o sistema elétrico que sustenta esses países? E por que, afinal, tudo desabou? Vamos explicar tudo de forma simples, para que você entenda o que aconteceu e como chegamos até aqui.

Como Funciona o Sistema de Energia Elétrica na Espanha e Portugal?

Imagine o sistema elétrico como uma gigantesca teia de aranha que conecta usinas de energia, linhas de transmissão e as tomadas da sua casa. Na Espanha, a Red Eléctrica é a empresa responsável por gerenciar essa teia, enquanto em Portugal, a Redes Energéticas Nacionais (REN) faz o mesmo. Essas empresas cuidam para que a energia gerada em usinas – sejam solares, eólicas, hidrelétricas ou nucleares – chegue até as cidades, vilarejos e indústrias.

Os dois países têm sistemas interligados, formando o que chamamos de rede ibérica. Isso significa que, se falta energia em Portugal, a Espanha pode “emprestar” eletricidade, e vice-versa. Além disso, a Península Ibérica está conectada à rede elétrica europeia, permitindo trocas de energia com países como França e Marrocos. É como uma rede de solidariedade elétrica: todos se ajudam para manter as luzes acesas.

Hoje, a energia vem de fontes modernas: painéis solares brilham sob o sol ibérico, turbinas eólicas giram com o vento e usinas nucleares (na Espanha) fornecem energia constante. Mas nem sempre foi assim.

A História do Sistema Elétrico: De Carvão e Rios ao Sol e Vento

No início do século XX, a eletricidade na Espanha e em Portugal era um luxo. Pequenas usinas a carvão e hidrelétricas movidas por rios eram a principal fonte de energia. Vilarejos distantes muitas vezes dependiam de lampiões a óleo, e apenas as grandes cidades, como Madri, Barcelona e Lisboa, tinham redes elétricas rudimentares. Essas usinas a carvão eram poluentes, caras e pouco eficientes, enquanto as hidrelétricas dependiam de chuvas, que nem sempre vinham.

Com o passar das décadas, os dois países investiram pesado em modernização. Na Espanha, a ditadura de Franco (1939-1975) priorizou a construção de grandes barragens e, mais tarde, usinas nucleares, que hoje respondem por cerca de 20% da energia do país. Portugal, com menos recursos, apostou em hidrelétricas e, a partir dos anos 2000, em energias renováveis. O carvão, sujo e caro, foi gradualmente abandonado, especialmente após a entrada de ambos na União Europeia (1986), que incentivou fontes limpas como solar e eólica.

Por que a mudança? Além da poluição, o carvão dependia de importações, o que deixava os países vulneráveis a crises internacionais. As energias renováveis, por outro lado, usam recursos abundantes na Península Ibérica: sol, vento e rios. Hoje, a Espanha é uma potência solar, e Portugal lidera em energia eólica na Europa. Essa transição tornou os sistemas mais sustentáveis, mas também mais complexos – e, como vimos em 2025, mais vulneráveis.

O Apagão de 28 de Abril: O Que Aconteceu?

Na manhã de 28 de abril de 2025, por volta das 11h30 em Lisboa (12h30 em Madri), a Península Ibérica foi engolida por um apagão devastador. Semáforos pararam, trens e metrôs ficaram presos em túneis, voos foram cancelados, e até torneios de tênis, como o Madrid Open, foram interrompidos. Em Madri, motoristas descreveram as ruas como “uma selva”, com engarrafamentos e acidentes. Em Lisboa, passageiros ficaram horas no escuro dentro de aeroportos sem ar-condicionado ou água.

O impacto foi colossal: cerca de 60 milhões de pessoas, entre espanhóis e portugueses, foram afetadas. Hospitais acionaram geradores de emergência, lojas fecharam, e pagamentos com cartão viraram impossível. Até partes do sul da França sentiram o impacto, embora a energia tenha voltado rapidamente por lá.

A Red Eléctrica e a REN correram contra o tempo para restaurar a energia. Algumas regiões, como Catalunha, Andaluzia e Porto, começaram a ver a luz voltar à tarde, mas Lisboa e outras áreas levaram horas – ou até dias – para se recuperar. A Espanha estimou que a normalização total levaria de 6 a 10 horas, enquanto a REN alertou que, em Portugal, o processo poderia demorar uma semana.

As Possíveis Causas: O Que Derrubou a Rede?

O apagão pegou todos de surpresa, e as autoridades ainda estão tentando entender o que aconteceu. Várias hipóteses surgiram:

  1. Oscilação na Rede Europeia: O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, falou em uma “forte oscilação” na rede elétrica europeia, que desconectou a Península Ibérica do sistema continental. Essa oscilação pode ocorrer quando há um desequilíbrio entre a produção e o consumo de energia, como uma usina desligando repentinamente.
  2. Fenômeno Atmosférico Raro: A REN apontou para um evento chamado “vibração atmosférica induzida”, causado por variações extremas de temperatura no interior da Espanha. O calor intenso teria feito as linhas de alta tensão (400 kV) vibrarem, criando falhas de sincronização na rede. Essas vibrações, amplificadas pelo calor ou vento, podem desestabilizar todo o sistema.
  3. Ciberataque: A possibilidade de um ataque hacker assustou autoridades e cidadãos. O ministro português Manuel Castro Almeida admitiu que um ciberataque não podia ser descartado, especialmente porque o apagão afetou vários países. O Instituto Nacional de Cibersegurança da Espanha (INCIBE) investigou, mas nenhuma evidência de sabotagem foi encontrada até o momento.
  4. Falha Técnica na Espanha: Portugal culpou a Espanha, afirmando que o problema começou na rede espanhola. Como Portugal importa energia da Espanha pela manhã (devido ao horário e ao custo mais baixo da energia solar espanhola), uma falha na Red Eléctrica teria se espalhado como um dominó.

A Causa Mais Plausível e Oficialmente Aceita

Após horas de investigação, a explicação mais aceita por Espanha e Portugal – e endossada pelo Conselho Europeu – é o fenômeno atmosférico raro. A REN detalhou que as temperaturas extremas no interior da Espanha causaram oscilações anormais nas linhas de alta tensão, desestabilizando a rede ibérica e parte da francesa. O Conselho Europeu descartou oficialmente um ciberataque, e a Red Eléctrica confirmou que não havia indícios de sabotagem.

Embora a Espanha ainda não tenha confirmado totalmente essa teoria, a falta de evidências de outras causas – como falhas humanas ou hackers – reforça a hipótese da “vibração atmosférica induzida”. É uma explicação que, apesar de técnica, aponta para a vulnerabilidade das redes modernas diante de eventos climáticos extremos, cada vez mais comuns devido às mudanças climáticas.

Por Que Isso É Tão Grave?

O apagão de 2025 não foi só uma inconveniência – foi um alerta. A Península Ibérica, apesar de ter uma das redes elétricas mais avançadas da Europa, mostrou-se frágil. A interconexão com a Europa, que deveria ser uma força, acabou amplificando o problema. Além disso, a dependência de Portugal pela energia espanhola deixou o país particularmente vulnerável.

O caos nos transportes, com trens parados até o dia seguinte e voos atrasados por dias, revela como a energia elétrica é o coração da vida moderna. Sem ela, cidades param, economias tremem, e a segurança pública fica em risco. O apagão também levanta questões sobre o futuro: se o clima continuar mudando, esses eventos serão mais frequentes? Estamos preparados?

O Caminho Adiante

Enquanto as luzes voltam aos poucos, Espanha e Portugal prometem investigações detalhadas. A União Europeia, liderada por Ursula von der Leyen, já se comprometeu a ajudar, destacando que a “segurança energética” é crucial. O apagão de 28 de abril de 2025 ficará na história como um lembrete: a energia que ilumina nossas vidas é poderosa, mas também frágil. E, num mundo cada vez mais quente e interconectado, precisamos estar prontos para o próximo desafio.

Comentários

Uma resposta para “Apagão na Espanha e Portugal: Entenda o Caos que Paralisou a Península Ibérica”

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *