
Um marco na medicina pode ter sido atingido — direto de um laboratório na China liderado pelo Dr. Hongkui Deng, da Peking University Health Science Center, em colaboração com o Tianjin First Central Hospital. Pela primeira vez, fizeram com que uma paciente com diabetes tipo 1 voltasse a produzir insulina com suas próprias células reprogramadas em laboratório. Embora ainda seja cedo para afirmar que a paciente está curada, esse feito é histórico e pode representar o primeiro passo real rumo à cura definitiva do diabetes tipo 1.
A paciente e o tratamento
A protagonista é uma jovem chinesa de 25 anos com diabetes tipo 1 — uma doença autoimune que destrói as células beta do pâncreas. Ela foi tratada com células-tronco pluripotentes induzidas (iPSC), derivadas de suas próprias células somáticas. Essas células foram reprogramadas quimicamente, sem uso de vetores virais, e transformadas em ilhotas pancreáticas produtoras de insulina, implantadas no músculo reto abdominal, ao invés do fígado, como em experiências anteriores.
Resultados impressionantes — mas sob monitoramento
Apenas 75 dias após o transplante, a paciente deixou de precisar de insulina. E mesmo após um ano, continua com produção autônoma de insulina sem episódios críticos. Veja os resultados:
- HbA1c caiu para cerca de 5%;
- Time in Range saltou de 43% para mais de 98%;
- Sem complicações ou rejeição até o momento.
Parte desse sucesso se deve ao fato de que a jovem já usava imunossupressores por conta de um transplante de fígado anterior, facilitando a aceitação do enxerto celular.
A cura está próxima?
A palavra cura só poderá ser usada se a produção de insulina se mantiver por, no mínimo, cinco anos — padrão exigido pela comunidade médica para considerar o diabetes tipo 1 verdadeiramente curado. Até lá, trata-se de uma remissão funcional de longo prazo, com potencial sem precedentes.
Por que esse estudo representa um divisor de águas?
O estudo supera os desafios dos protocolos anteriores:
- Usou exclusivamente células autólogas, eliminando o risco de rejeição e a necessidade de imunossupressão intensa.
- A reprogramação química evita riscos associados a vetores virais e mutações.
- O implante no músculo abdominal favoreceu acesso clínico e segurança, diferente dos métodos que usam o fígado.
- Além disso, foi possível manter a produção de insulina por mais de um ano, algo inédito para terapias com células autólogas.
Estudos anteriores, como os conduzidos por Vertex Pharmaceuticals, conseguiram restaurar a produção de insulina em até 12 pacientes com iPSC de origem embrionária, mas os resultados ainda dependiam de imunossupressores e tinham duração limitada.
Os próximos passos
O estudo segue com mais pacientes (três foram engajados até agora) e terá monitoramento por pelo menos dois anos, incluindo análise dos efeitos do sistema imunológico a longo prazo . Se confirmados, os pesquisadores planejam ampliar o protocolo para atender dezenas de pacientes — e, possivelmente, abrir caminho para o fim da dependência de insulina.
Conclusão: o início de uma nova era
Este feito é promissor e revolucionário. Restaurar a função pancreática em humanos, usando células próprias reprogramadas em laboratório, pode finalmente transformar o tratamento do diabetes tipo 1. Se os resultados se mantiverem nos próximos cinco anos, poderemos realmente começar a falar em cura.
Aguardamos ansiosos pelos próximos capítulos dessa história, que tem um grande potencial de dar novos rumos ao tratamento da diabetes.
Referência:
Wang S. et al. Transplantation of chemically induced pluripotent stem-cell-derived islets under abdominal anterior rectus sheath in a type 1 diabetes patient. Cell. 2024;187(22):6152‑64.e18
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