
Poucos nomes da história despertam tanto fascínio quanto Alexandre, o Grande. Filho de reis, aluno de filósofos, comandante de exércitos desde muito jovem, ele foi responsável por uma das maiores campanhas militares da Antiguidade. Seu império se estendeu da Grécia até os confins da Índia, rompendo fronteiras, culturas e paradigmas.
Mas se sua vida foi marcada por conquistas grandiosas, sua morte prematura e misteriosa, aos 32 anos, permanece um enigma até hoje. O que teria causado o fim de um dos maiores líderes da história humana? Doenças tropicais? Envenenamento? Ou uma condição rara e mal compreendida pela medicina antiga?
Vamos explorar sua trajetória e as teorias que tentam explicar o fim repentino de uma lenda viva.
Alexandre: da Macedônia para o mundo
Alexandre III da Macedônia nasceu em 356 a.C. em Pela, capital do reino macedônio. Filho do rei Filipe II, que unificou a Grécia sob seu domínio, e da rainha Olímpia, de temperamento forte e espiritualidade marcante, Alexandre foi educado desde cedo para liderar. Seu tutor foi Aristóteles, um dos maiores filósofos da história, que lhe ensinou ciência, política e ética.
Aos 20 anos, após o assassinato do pai, Alexandre assumiu o trono e rapidamente consolidou seu poder. Em vez de se contentar com a hegemonia grega, partiu para conquistar o poderoso Império Persa. Em menos de 13 anos, venceu batalhas épicas como as de Issos, Gaugamela e Tiro, fundou diversas cidades (incluindo Alexandria, no Egito), cruzou desertos e selvas, e chegou até o rio Indo, no atual Paquistão.
Mais do que um militar, Alexandre promoveu a fusão cultural entre gregos e orientais, incentivando casamentos mistos, o aprendizado de idiomas e o respeito às religiões locais. Era, ao mesmo tempo, um estrategista brilhante e uma figura envolta em mitos, comparado a Hércules e Aquiles.
O enigma da morte de Alexandre
Em junho de 323 a.C., após um banquete na cidade da Babilônia, Alexandre adoeceu subitamente. Os relatos dizem que ele sofreu febre intensa, dores no abdômen, fraqueza progressiva e paralisia. Durante mais de dez dias, sua condição piorou até que morreu, deixando um império vasto, mas sem herdeiro claro.
A falta de informações médicas precisas da época, a ausência de sinais evidentes de decomposição do corpo por dias (segundo os relatos) e as disputas políticas que surgiram logo após sua morte alimentaram uma série de teorias — desde causas naturais até conspiração.
Vamos conhecê-las:
As principais teorias sobre a morte de Alexandre
1. Febre tifoide
Essa doença bacteriana é transmitida por água e alimentos contaminados. Causa febre alta, dor abdominal, diarreia, delírios e até paralisia em casos graves.
Por que é considerada?
- Era comum na Babilônia, onde as condições sanitárias eram precárias.
- Os sintomas descritos por fontes antigas coincidem com os da doença.
Problemas com a teoria:
- Não explica bem a possível preservação do corpo por dias, o que indicaria morte tardia ou envenenamento.
2. Malária
Causada por parasitas transmitidos por mosquitos, a malária provoca febre cíclica, calafrios, fadiga e desidratação. A Babilônia, com seus pântanos, era ambiente ideal para o mosquito transmissor.
A favor da teoria:
- Alexandre poderia já ter tido malária e sofrido uma recaída fatal.
- Febre e delírios encaixam bem com a descrição da doença.
Limitações:
- Malária não costuma causar paralisia progressiva, um dos pontos mais intrigantes do caso.
3. Veratrum album – envenenamento com planta tóxica
O Veratrum album é uma planta venenosa europeia. Sua ingestão provoca vômitos, bradicardia (ritmo cardíaco lento), queda de pressão e paralisia, podendo levar à morte em vários dias.
Por que essa hipótese é forte?
- Uma morte lenta e progressiva, como descrita nos relatos.
- O corpo poderia parecer “bem preservado”, pois a morte real teria sido mais tardia.
- Alexandre tinha inimigos políticos que poderiam ter tramado um assassinato.
Críticas:
- A planta não era comum na Babilônia.
- Não há evidência direta de envenenamento, mas também não havia exames na época para detectá-lo.
4. Pancreatite aguda ou alcoolismo
Há quem diga que Alexandre exagerava no vinho e que poderia ter sofrido uma inflamação no pâncreas após um grande banquete. Os sintomas incluem dores abdominais intensas, febre e desidratação.
Argumentos a favor:
- Casaria com relatos de sua vida de excessos e da crise após o banquete.
Argumentos contra:
- Não explicaria a paralisia, nem o tempo de agonia prolongado de forma tão específica.
5. Síndrome de Guillain-Barré
Essa é uma condição neurológica rara em que o sistema imunológico ataca os nervos periféricos, causando paralisia progressiva, mas mantendo a consciência.
A favor dessa teoria moderna:
- Explica a paralisia com lucidez descrita por fontes antigas.
- A doença pode ocorrer após infecções (como febre tifoide ou malária), o que as tornaria gatilhos.
- Se Alexandre estivesse paralisado, mas ainda vivo, seu corpo pareceria “sem decomposição” — porque não estaria morto ainda.
Dificuldades:
- Era uma condição desconhecida à época.
- Só recentemente a medicina reconheceu essa síndrome, então é uma interpretação moderna dos sintomas antigos.
As teorias mais aceitas atualmente
Entre todas as ideias, duas se destacam como as mais plausíveis aos olhos da ciência e da história:
1. Febre tifoide (com ou sem complicações secundárias)
É a hipótese preferida por muitos historiadores. A doença era comum, os sintomas batem com os relatos e é uma explicação simples para uma morte natural em ambiente hostil. Ainda assim, não justifica todos os detalhes do caso, especialmente a preservação do corpo.
2. Síndrome de Guillain-Barré (possivelmente após infecção)
Essa teoria, defendida por médicos em estudos recentes, tenta conciliar os sintomas neurológicos com os relatos de consciência e lentidão no processo de morte. O corpo “sem sinais de decomposição” poderia ser um indício de que Alexandre estava vivo, mas imóvel, confundido com um cadáver.
Curiosamente, ambas as teorias podem se complementar: Alexandre teria tido uma infecção inicial (como tifoide ou malária) e desenvolvido depois a síndrome neurológica.
A última batalha de Alexandre
Alexandre viveu como poucos: comandou exércitos, derrotou impérios e deixou sua marca em três continentes. Mas sua morte continua sendo um dos grandes mistérios da história.
Com tantos relatos contraditórios, teorias médicas e suspeitas políticas, ninguém consegue afirmar com certeza o que realmente aconteceu. Ele pode ter sido vítima de uma doença comum, de uma condição neurológica rara ou até de um plano de assassinato.
O fato é que, mesmo depois de mais de dois mil anos, ainda tentamos entender como terminou a vida de um homem que parecia invencível. Talvez nunca tenhamos todas as respostas — mas a dúvida que ficou é tão impactante quanto suas conquistas em vida.
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